ANTÔNIO LAPATE NETTO
( Brasil – São Paulo )
Nasceu a 4 de novembro de 1915.
Residia em Santo André, Estado de São Paulo.
CADERNO DE POESIA - 2. Santo André, SP: Clube de Poesia de S. André, 1954. 90 p. 15,5 X 22,5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Indiscrição
Visitando um mosteiro, certo dia,
Vislumbrei um velho monge no jardim,
Que, absorto em orações, o olhar erguia,
A perder-se nos páramos sem fim.
Que lúgubre desígnio o levaria,
Deste mundo, a viver, distante assim?
Pensei — talvez o amor que se extinguia
De alguém que se esquecera dele enfim.
Curioso, perguntei-lhe, de repente,
Se, em toda a sua vida já passada,
Alguma vez provara o amor ardente,
Meu filho!... Que incerteza mal fundada!...
Disse — pois besta vida penitente,
Mais perto estou de minha bem amada.
Solidão
Num canto do jardim, ensimesmada,
Chorando agora as lágrima primeiras,
Resta uma flor, lembrando as companheiras,
Uma a uma, transformando-se num nada...
De cada companheira desfolhada,
Dentre as flores outrora prazenteiras,
Ficaram-lhe lembranças tão fagueiras,
Eivadas de saudade prolongada...
Nas pétalas que jazem nos canteiros,
Qual pérola, uma lágrima caída
Reflete-lhe os anseios derradeiros...
Também meu coração, na curta vida,
Triste e só, chora antigos companheiros,
Maldizendo a existência tão comprida.
Encantamento
Ó róseos sonhos meus de um só momento!
Que às vezes duram toda a eternidade,
Tornando, sem resquícios de tormento,
Minha existência toda em realidade...
Ó pobres versos meus soltos ao vento!
Que levam todo o ardor da mocidade,
Quais núncios de alegria e de lamento,
Na eterna evocação de uma saudade...
Em sonhos que vivi tanta ventura,
Nos versos em que pus toda ternura,
Já ressumbrava o encanto pela vida.
Porém, só neste amor que me extasia,
Só em você, encontrei toda a alegria
Do encanto de viver, minha querida!...
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Página publicada em novembro de 2022
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